MORADORES DE RUA
Nenhum poema de amor
desfaz o ruído mudo
dos moradores de rua.
Nenhum poema é capaz
de fazer voltar atrás
o desassossego que mina
a lembrança da vida.
Desista, poeta, de buscar
o conforto fácil do verso
que, em ser belo, esconde
a dor e a culpa.
A rua é impura. Cada um
carrega nos pés o rastro
do desacerto do mundo.
Com ele vai dormir
e com ele acordar
até, um dia,
descobrir-se um outro.
Talvez surja, então, o amor
que não seja cinismo
e perdão a si mesmo,
mas, de amar, o acerto.