VÍCIO DE CAMINHAR
Me leve o leve andar
das palavras enquanto caminho
à beira-mar. Com ele
não sinto o tempo passar.
Exercício diurno, o corpo
as acolhe e alimenta
– despojando-as da sintaxe
que asfixia; dos ruídos
silábicos.
À noite, no silêncio dos ossos,
combinam entre si
o sentido do próximo dia.
Me deixo levar, sabendo
que posso confiar no poder
que têm de ordenar-me
pro mundo.
Me leve, mas leve assim,
trazendo-me de volta.