O poeta tece o seu poema
tal qual o pescador que, paciente,
a tarrafa vai tecendo
para, um dia, na água lançar.

O peixe do poeta, porém,
não cai tal qual esse de guelras
nebulosas. Raro, mais se dá
no ciscar à toa em páginas ou telas.

Se acerta o lance, leva pra si
a sorte da alma alimentada, coisa
que o faz tecer mais e mais
em esgrima sutil de letras e palavras.
Trabalhosa é a poesia!

A tarrafa – também um livro
que se abre como asas em círculo –
é capaz de dar à mesa o fruto
de que precisa o corpo.

Que estranho é tudo!
Um parece o outro
se salta do céu a seta
sem saber-se se é certa ou não.